quarta-feira, outubro 21, 2009

«Se eu pudesse trincar a terra toda
e sentir-lhe uma paladar,
seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
para se poder ser natural...
nem tudo é dias de sol,
e a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
naturalmente, como quem não estranha
que haja montanhas e planícies
e que haja rochedos e erva ...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
na felicidade ou na infelicidade,
sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
e quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
e que o poente é belo e é bela a noite que fica...

Assim é e assim seja ...»

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"

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