segunda-feira, fevereiro 14, 2011

...

«Pedes-me um tempo,
para balanço de vida.
Mas eu sou de letras,
não me sei dividir.

Para mim um balanço
é mesmo balançar,
balançar até dar balanço
e sair..

Pedes-me um sonho,

para fazer de chão.
Mas eu desses não tenho,
só dos de voar.
Agarras a minha mão

com a tua mão
e prendes-me a dizer
que me estás a salvar.

De quê?
De viver o perigo.
De quê?
De rasgar o peito.
Com o quê?
De morrer,
mas de que paixão?
De quê?
Se o que mata mais é não ver
o que a noite esconde
e não ter
nem sentir
o vento ardente
a soprar o coração...

Pedes o mundo

dentro das mãos fechadas
e o que cabe é pouco
mas é tudo o que tens.

Esqueces que às vezes,
quando falha o chão,
o salto é sem rede
e tens de abrir as mãos.
Pedes-me um sonho

para juntar os pedaços
mas nem tudo o que parte(s)
e volta a colar.

E agarras a minha mão

com a tua mão
e prendes-me
e dizes-me para te salvar.
De quê?
De viver o perigo.
De quê?
De rasgar o peito.
Com o quê?
De morrer, mas de que paixão?
De quê?
Se o que mata mais é não ver
o que a noite esconde
e não ter
nem sentir
o vento ardente
a soprar o coração.»

Mafalda Veiga

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