segunda-feira, janeiro 29, 2007

Só podia...

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade,
tem que ser vagarosamente, disfarçadamente,
não se chega com ímpeto,
não se alcança o coração de alguém com pressa.
Tem que se aproximar com meias palavras,
suavemente,
apoderar-se dele aos poucos,
com cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado,
na verdade,
teremos que furtá-lo, docemente.

Conquistar um coração de verdade dá trabalho,
requer paciência,
é como se fosse tecer uma colcha de retalhos,
aplicar uma renda em um vestido,
tratar de um jardim,
cuidar de uma criança.
É necessário que seja com destreza, com vontade,
com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza,
mas não falo dessa esperteza que todos conhecem,
falo da esperteza de sentimentos,
daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.

Quando se deseja realmente conquistar um coração,
é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso,
é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes,
que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho,
entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago....
...e então,
quando finalmente esse coração for conquistado,
quando tivermos nos apoderado dele,
vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós
e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim,
mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por quê?
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio,
esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria,
sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava...

... e é assim que se rouba um coração, fácil não?

Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,
a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém...
é simples...
é porque elas não possuem mais coração,
eles foram roubados,
arrancados do seu peito,
e somente com um grande amor ela terá um novo coração,
afinal de contas, corações são para serem divididos,
e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.

... Luíz Fernando Veríssimo. Quem mais?

4 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Desconcertante... este texto é deveras desconcertante!

Aliás, como o são todos os textos deste fabuloso escritor que é Luíz Fernando Veríssimo.

janeiro 29, 2007 6:11 da tarde  
Blogger MBSilva disse...

:)

De facto, Luíz Fernando Veríssimo tem essa capacidade de nos deixar "desnorteados" com os seus textos... tão cheios de razão e sentido...
"Desconcertantes", como diz!

Lembro-me de um em especial - chamo-lhe "o quase" - que sempre que o leio me deixa sem palavras! Através das suas palavras Luíz Fernando Veríssimo faz tudo parece tão simples!

[E será que não é?!? Pergunto eu...]

janeiro 29, 2007 8:25 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Conheço bem o texto que refere e dou-lhe toda a razão!
Ninguém consegue ficar indiferente a essas palavras...

«... Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono ...»

... :)

janeiro 30, 2007 12:42 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

para variar... speachless...

janeiro 30, 2007 2:08 da tarde  

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