Brilhante...!!!!!
«(...) Há relações que duram anos e, ao longo desses anos, é possível que as pessoas se enamorem e desenamorem. Alguns deixam de se amar, mas, não obstante, permanecem juntos. Outros decidem separar-se, mas precisam de tempo. Antes de o fazerem, procuram compreender se é isso que querem, de certeza, ou se não passa de uma crise passageira. Se, por fim, se convencem de que tudo acabou deveras, ainda precisam de achar maneira de o fazer, de encontrar as palavras certas para mitigar a dor. Há os que chegam a perder meses neste processo, ou até anos. Também há quem perca uma vida sem nunca dar esse passo. Muitas vezes, não conseguem largar só porque não sabem para onde ir, ou porque não conseguem suportar a ideia de serem responsáveis pelo sofrimento do outro.
Um sofrimento intenso, que só alguém com quem vivemos intimamente pode experimentar. Existe a convicção de que uma dor repentina é demasiado forte e causa maior dano do que uma dor mais pequena, mas doseada dia a dia.
Tais relações prosseguem, ainda que aquele que está para ser deixado já tenha percebido o que se passa. Porque prefere fingir que não é nada. Quando nenhum dos dois consegue enfrentar a situação, o mecanismo encrava. Estão ambos dominados pela incapacidade própria e pela do outro. Então, ganham tempo. Perdem tempo. Esgotam o tempo.
Quem está para ser deixado torna-se quase sempre mais carinhoso, mais gentil, mais permissivo; não entende que, deste modo piora a situação, pois uma pessoa demasiado condescendente perde o fascínio. Quanto mais se adia, mais fraca se torna a vítima.
Há ainda os que se mantêm na esperança de que o outro dê um passo em falso, cometa um erro, manifeste nem que seja só uma pequena fraqueza, para poderem agarrar-se a ela e usá-la como desculpa sem se sentir um verdugo. (...)»
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